Relato de uma viagem de trem(EUA) - entre primeiro e três de de junho de 2015
por Márcio Polidoro
por Márcio Polidoro
Voltei
prá casa. São e salvo, depois da aventura ferroviária pelo Meio Oeste americano.
As
10 horas de avião entre San Francisco e Lima foram muito mais penosas e
desagradáveis que as 57 de trem, entre Chicago e San Francisco.
Durou
mais que o esperado porque um problema na ferrovia entre Denver e Salt Lake
City levou o trem para um pequeno desvio pelo Wyoming, coisa de 500 km mais.
Com isso, passamos por Cheyenne. Pensei que ali encontraria Touro Sentado, o
amigo do meu amigo Juvenal.
Nem ele, nem
seus colegas de tribo, nem os inimigos comanches. Aliás, não vimos viva alma na
maioria das cidades. O trem para em 35 estações e passa por umas duzentas
cidades. Só víamos mesmo quem desembarcava e quem embarcava.
Nas ruas era esse fenômeno americano que me intriga. Não tinha ninguém. No interior da Bahia, em qualquer quinta-feira à tarde, em qualquer currutela, os botecos e as calçadas estão cheias de gente. Lá nos USA não. Gente ocupada....
Nas ruas era esse fenômeno americano que me intriga. Não tinha ninguém. No interior da Bahia, em qualquer quinta-feira à tarde, em qualquer currutela, os botecos e as calçadas estão cheias de gente. Lá nos USA não. Gente ocupada....
A
viagem vale a pena. O trem é confortável e silencioso. Não tem balanço, nem
pocotó....A cabine que ocupamos tinha cama de casal e um banheiro com chuveiro
decente. O restaurante servia uma boa comida e o bar sempre tinha cerveja
gelada e um vinhozinho da Califórnia.
Todos os vagões são, como diria
Jânio Quadros, dose dupla. Eles chamam de “double decker”. Viajamos no andar de
cima, mais caro porque, pelas janelas panorâmicas, oferece “a bird’s – view of
the spectacular scenery on the route”. Excluídos os exageros marketistas, nossa
visão de passarinho mostrou coisas bem interessantes.
Foram
5300 km e nessa distância toda a paisagem muda muito. De campos agrícolas
imensos em Illinois e Iowa ao velho Oeste puro em Nevada. Cruzamos o deserto de
Utah, que tem lá sua beleza, vários parques nacionais e a Sierra
Nevada, ainda com neve, apesar do verão que chega.
O ponto mais alto que o trem cruza tem 2.400 m de altitude.
O ponto mais alto que o trem cruza tem 2.400 m de altitude.
Ao
longo da viagem um roteiro vai contando histórias dos lugares por onde o trem
passa.
Em Omaha, Nebraska, nasceram ou passaram a infância Fred Astaire, Marlon Brando, Nick Nolte e Henry Fonda. Em Offut Air Force Base, ali do lado, foi onde George Bush se escondeu no 11 de setembro, depois do ataque às Torres Gêmeas.
Em Omaha, Nebraska, nasceram ou passaram a infância Fred Astaire, Marlon Brando, Nick Nolte e Henry Fonda. Em Offut Air Force Base, ali do lado, foi onde George Bush se escondeu no 11 de setembro, depois do ataque às Torres Gêmeas.
Em Fort Morgan, Colorado, Glen Miller passou a infância e
começou a carreira de músico na banda da escola. Em Glenwood Springs, Colorado,
Doc Holliday passou os últimos anos de vida; em Monmouth, Illinois,
nasceu o Marshall Wyatt Earp, e em Castle Gate, Utah, Butch
Cassidy roubou 7 mil dólares em ouro da Pleasent Valley Coal Company.
O
roteiro também conta que em Soda Springs, já na Califórnia, este mesmo trem, em
1952, ficou 3 dias bloqueado por uma nevasca com 226 passageiros a bordo.
E que em Donner Lake, também na California, em 1846, migrantes de Illinois, de um grupo de 87, também presos pela neve, recorreram ao canibalismo para sobreviver. 47 chegaram ao fim da jornada. Recomendo não fazer a viagem no inverno.
E que em Donner Lake, também na California, em 1846, migrantes de Illinois, de um grupo de 87, também presos pela neve, recorreram ao canibalismo para sobreviver. 47 chegaram ao fim da jornada. Recomendo não fazer a viagem no inverno.
Pronto.
Para
uma viagem sonhada no escuro das matinês do Cine São João, em Araçatuba, ali pelos anos 60, assistindo
bangue-bangues e seriados do Roy Rogers, ficou de bom tamanho. Até
Ana Laura, minha mulher, gostou....
Só faltaram os peles vermelhas atacando o trem!
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