terça-feira, 21 de julho de 2015

Relato de uma viagem de trem(EUA)



  
Relato de uma viagem de trem(EUA) - entre primeiro e três de de junho de 2015

por Márcio Polidoro

Voltei prá casa. São e salvo, depois da aventura ferroviária pelo Meio Oeste americano.
As 10 horas de avião entre San Francisco e Lima foram muito mais penosas e desagradáveis que as 57 de trem, entre Chicago e San Francisco.

Durou mais que o esperado porque um problema na ferrovia entre Denver e Salt Lake City levou o trem para um pequeno desvio pelo Wyoming, coisa de 500 km mais. Com isso, passamos por Cheyenne. Pensei que ali encontraria Touro Sentado, o amigo do meu amigo Juvenal. 

Nem ele, nem seus colegas de tribo, nem os inimigos comanches. Aliás, não vimos viva alma na maioria das cidades. O trem para em 35 estações e passa por umas duzentas cidades. Só víamos mesmo quem desembarcava e quem embarcava.

Nas ruas era esse fenômeno americano que me intriga. Não tinha ninguém.  No interior da Bahia, em qualquer quinta-feira à tarde, em qualquer currutela,  os botecos e as calçadas estão cheias de gente. Lá nos USA não. Gente ocupada....

A viagem vale a pena. O trem é confortável e silencioso. Não tem balanço, nem pocotó....A cabine que ocupamos tinha cama de casal e um banheiro com chuveiro decente. O restaurante servia uma boa comida e o bar sempre tinha cerveja gelada e um vinhozinho da Califórnia. 

 Todos os vagões são, como diria Jânio Quadros, dose dupla. Eles chamam de “double decker”. Viajamos no andar de cima, mais caro porque, pelas janelas panorâmicas, oferece “a bird’s – view of the spectacular scenery on the route”. Excluídos os exageros marketistas, nossa visão de passarinho mostrou coisas bem interessantes.

Foram 5300 km e nessa distância toda a paisagem muda muito. De campos agrícolas imensos em Illinois e Iowa ao velho Oeste puro em Nevada. Cruzamos o deserto de Utah, que tem lá sua  beleza, vários parques nacionais e  a Sierra Nevada, ainda com neve, apesar do verão que chega.

O ponto mais alto que o trem cruza tem 2.400 m de altitude.

Ao longo da viagem um roteiro vai contando histórias dos lugares por onde o trem passa.
Em Omaha, Nebraska,  nasceram ou passaram a infância Fred Astaire, Marlon Brando, Nick Nolte e Henry Fonda. Em Offut Air Force Base, ali do lado,  foi onde George Bush se escondeu no 11 de setembro, depois do ataque às Torres Gêmeas. 

Em Fort Morgan, Colorado,  Glen Miller passou a infância e começou a carreira de músico na banda da escola. Em Glenwood Springs, Colorado,  Doc Holliday passou os últimos anos de vida;  em Monmouth, Illinois,  nasceu o Marshall Wyatt Earp,  e em Castle Gate, Utah,  Butch Cassidy roubou 7 mil dólares em ouro da Pleasent Valley Coal Company.

O roteiro também conta que em Soda Springs, já na Califórnia, este mesmo trem, em 1952,  ficou 3 dias bloqueado por uma nevasca com 226 passageiros a bordo.

E que em Donner Lake, também na California, em 1846,   migrantes de Illinois, de um grupo de 87,  também presos pela neve,  recorreram  ao canibalismo para sobreviver. 47 chegaram ao fim da jornada. Recomendo não fazer a viagem no inverno.
Pronto.

Para uma viagem sonhada no escuro das matinês do Cine São João, em Araçatuba, ali pelos anos 60, assistindo bangue-bangues e  seriados do Roy Rogers, ficou de bom tamanho.  Até Ana Laura, minha mulher,  gostou....
Algumas fotos. Da janela do trem:










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