segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Trens de passageiros em Bauru?


13/01/2013 

Embarques podem voltar para Bauru

É o que pretende a campanha atual de um dos sindicatos ferroviários. Meta é volta de serviço Rodrigo Viudes

rodrigo.viudes@bomdiabauru.com.br

 
A noite do dia 15 de março de 2001 já havia chegado quando uma silenciosa e discreta composição avançou na já abandonada estação de Bauru. Apenas uma locomotiva e dois  carros encostaram na velha gare. Terminava a última viagem de trens de passageiros na cidade e no estado de São Paulo.

Mas, passados quase 12 anos dessa despedida, os trens de passageiros podem, enfim, retornar. Pelo menos é essa a expectativa do Sindpaulista (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas).

Nesta semana, a entidade lançou uma campanha pró-reativação com ofícios encaminhados à presidente Dilma Rousseff (PT) e ao governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB).
Mudanças /A proposta da entidade é que os trens possam ser, gradativamente, reativados no estado e até no país a partir de revisões contratuais com as atuais concessionárias que transportam apenas cargas e a cessão de uso das estações ferroviárias às prefeituras.

“Juridicamente, nossa iniciativa é viável. Só falta vontade política e uma mobilização da sociedade para que, de fato, aconteça”, afirma, convicto, ao BOM DIA, o vice-presidente do Sindpaulista, Ariovaldo Bonini Baptista.

A ALL (América Latina Logística), que administra quase toda a malha paulista, inclusive em Bauru, informou ao BOM DIA que não tem know-how para transportar passageiros, além de preferir as cargas, na qual teria um crescimento médio de 10% ao ano.

No caso da estação ferroviária, as dependências do prédio da antiga NOB (Noroeste do Brasil) já pertencem ao município. Foram adquiridos pela prefeitura, em 2010, por R$ 6,3 milhões.

Rumo ao interior /Outra  frente da campanha do sindicato é a articulação política para trazer, o quanto mais possível, os trens suburbanos da capital para o interior.

A motivação atual dos ferroviários é a confirmação do governo estadual da extensão de uma das linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) de Jundiaí até Campinas.

 Além disso,  está em andamento o edital para criação de trens regionais através de  PPPs (parcerias público-privadas) com a construção de mais 436 km de trilhos interligando três pontos no estado: Americana, São José dos Campos e Santos.

  “Nossa estação de destino é ampliar a discussão, fazer com que as ferrovias entrem na pauta dos investimentos dos governos estadual e federal e no rol das políticas de desenvolvimento regional e que assumam um lugar de destaque no cenário paulista”, resume o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista, o deputado estadual Mauro Bragato (PSDB).

 Presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do setor ferroviário encerrada em 2010, o atual prefeito de Marília (100 km de Bauru), Vinícius Camarinha (PSB), reafirmou ao BOM DIA o retorno dos trens de passageiros como uma das prioridades do setor no estado.

   Cidade  ganhará um trem turísticoEnquanto o novo trem de passageiros não chega, segue na linha a velha composição bauruense tracionada por uma Maria Fumaça em seus passeios dominicais.

Em breve, no entanto, a locomotiva voltará a conviver com uma companhia dos tempos do domínio da tração a vapor, até meados aos anos 1950.

A máquina atualmente exposta no bosque da comunidade, no Altos da Cidade, retornará à ativa para a formação do futuro trem turístico de Bauru.

A reativação integra o projeto de reforma da antiga estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1970-1971). Orçada em R$ 871 mil, a obra foi liberada pelo Programa Turismo Social do Brasil, do Ministério do Turismo.

A prefeitura de Bauru fará a suplementação da verba necessária para resgatar todas as características originais da estação aberta em 1910 – e com entrada pela rua Rio Branco, no Centro.

Pelo projeto atual, A “nova Paulista” será utilizada não mais como ponto de partida e chegada de um transporte cultural e eventual, como é o caso do atual, oferecido gratuitamente.

Segundo informou o diretor da divisão técnica da Secretaria da Cultura, a ideia é formação de um trem turístico que possa interligar as estações de Bauru e o distrito de Tibiriçá.

“Seriam duas composições. Enquanto uma fosse, a outra voltaria”, diz. Maquinista da Maria Fumaça utilizada atualmente, ele teria que contar com pelo menos mais um operador, já aprovado em concurso municipal.
 Diferente do serviço atual, organizado pela própria Secretaria de Cultura, o futuro trem turístico demandaria a administração por uma empresa, definida por licitação, e com obrigações de manutenção de todo o material rodante disponível.

Concessão atual não exige levar pessoas

Pelos contratos atuais, questionados pelo sindicato, a ALL (América Latina Logística) tem a permissão de transportar apenas cargas e não os passageiros. No que depender da empresa, segundo apurou o BOM DIA, vai continuar do mesmo jeito.

95 Anos foi o tempo que  Bauru foi servida pelos trens de passageiros

De Bauru para o todos os cantos do estadoAté meados da década de 1990, o transporte por trens em Bauru permitia o acesso a todos os trilhos paulistas. Daqui chegava-se a São Paulo, ao litoral e às cidades mais distantes do oeste paulista como Presidente Epitácio e Panorama. Mas as viagens chegavam além, pelo antigo Trem do Pantanal, pelo qual se desembarcava em Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia.

Cronologia22 abril de 1905
A Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1971) atinge seus trilhos em Bauru e funda  a 1ª estação local.

27 setembro de 1906
Estação da Noroeste do Brasil (1906-1975) é inaugurada com direito a muita festa.

8 agosto de 1910
É a vez da Companhia Paulista de Estradas de Ferro  (1910-1971), que nascia naquele ano, chegar a Bauru e completar um complexo de ferrovias por aqui.

1 setembro de 1939
A Noroeste inaugura sua nova e maior estação para poder receber melhor os passageiros que já vinham para Bauru de todo o país

Outubro de 1939
Estações da Sorocabana e da Paulista já não recebem os trens de passageiros, que passam a parar apenas na nova estação.

15 junho de 1947
A bitola larga (1,60 metro), enfim, chega a Bauru, pelos trilhos da Paulista. Estação passa a compartilhar fluxo de trens da métrica (1 metro).

Abril de 1976
A eletrificação chega a Bauru pela Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A [1972-1999]). Grandes locomotivas (V8 e Russas) passam a levar cargas e passageiros.

13 janeiro de 1993
Última viagem do Trem do Pantanal de Bauru até Campo Grande.

Meses de 1995
Eletrificação começa a ser suprimida. Locomotivas já são abandonadas por aqui.

9 novembro de 1998
Toda a malha paulista passa à administração da Ferroban.

15 março 2001
Chega em Bauru o último trem de passageiros.

28 fevereiro de 2002
É criada a Brasil Ferrovias com unificação de Ferroban, Ferronorte e Novoeste.

Maio de 2006
ALL assume ferrovias, até os dias atuais


Matéria publicada no jornal  BOM DIA BAURU