sábado, 7 de julho de 2012

O problema não são os trilhos

Fabio Paride Pallotta
Desde o começo do século XX, um presidente da República chamado Washington Luis (1926-1930), declaradamente contra as ferrovias no Brasil, ao tomar posse na Capital Federal, o Rio de Janeiro à época, disse que o futuro dos transportes estava só na rodovia, mas havia chegado ao Rio de trem... 
Hoje, houvesse chegado ele ao Rio de automóvel teria perdido a posse parado em um congestionamento. Nos dias que seguem, após uma privatização mal feita, que não contemplou como deveria a questão da preservação do patrimônio ferroviário, muitas pessoas desinformadas ou mal intencionadas dizem que algumas cidades de São Paulo e do Brasil têm uma herança maldita que seriam os trilhos nos centros das cidades.

Na verdade, esses trilhos representam algum perigo devido a incúria, ao descaso do órgão que deveria fiscalizar os transportes terrestres no Brasil, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e não o faz a contento. 
Essa inércia beneficia a concessionária do serviço ferroviário de carga pesada que, dizendo obedecer a acordos realizados para a manutenção da via permanente, sem fiscalização os executa a passos de tartaruga ou consegue se eximir de execução de obras mais caras como passagens de nível que seriam realizadas por ela e com manutenção feita pela prefeitura municipal. 
Como foi noticiado por esse jornal o representante do Ministério Público Federal na cidade não vê cabimento da justiça ter negado, em ação proposta por ele, que a concessionária não execute obras para garantir vidas e patrimônio em Bauru (MPF diz que ANTT é ausente. Geral. Jornal da
idade, dia 17 de junho de 2012, página 12).
Deveria à concessionária, independentemente de ação na justiça ou acidentes com os munícipes (fatais ou não), para dar uma satisfação aos acionistas e a sociedade realizar as obras necessárias para garantir a vida das pessoas como cancelas adequadas com sinais sonoros, capinação da linha onde haja mato impedindo a visão de placas de aviso, aperfeiçoar os sinais de aviso de passagem do trem, enfim aqueles itens necessários para a preservação do bem mais precioso que é a vida. 
Devemos lembrar que um dos itens mais valiosos de uma empresa é a sua marca e a marca da concessionária dos serviços ferroviários, infelizmente parece ligada a acidentes, descaso com o patrimônio cultural ferroviário etc.

Esses são problemas graves que devem ser denunciados pela população, combatidos pelas autoridades. Mas os trilhos, hoje, são uma herança preciosa que poderão presentear Bauru com uma Mobilidade Urbana que poucas cidades terão no país ao integrarmos o Ônibus Urbano, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e Ciclovias paralelas ao traçado ferroviário. 
O tema já está sendo discutido pela Comissão do Entorno Ferroviário que deve avançar nas discussões sobre esse assunto e propor alternativas independentemente dos resultados das eleições municipais. 
Essa herança ferroviária é pouco discutida e deve ser conhecida pela população, pelo legislativo municipal e pelo executivo para evitar que a falta de informação e os interesses de poucos possam impedir que a Mobilidade Urbana em Bauru seja instalada através dos trilhos existentes que serão solução e não um problema. Não é demais lembrar que esse “presente ferroviário” custou a vida de muitos índios kaingang e operários que morreram para instalar os trilhos urbanos nas condições mais adversas.

O autor, Fabio Paride Pallotta, é professor de história e colaborador de Opinião
Publicado originalmente no Jornal da Cidade de Bauru, edição de 07 de julho de 2012