domingo, 24 de janeiro de 2010

Bauru-SP - Patrimônio da ferrovia a caminho do ‘ferro-velho’




É com pesar que publico a matéria abaixo aqui. Contudo essa é a realidade de muitas ferrovias no Brasil e particularmente em Bauru -SP

Antonio Morales


Patrimônio da ferrovia a caminho do ‘ferro-velho’

Matéria publicada no Jornal da Cidade de Bauru e região na edição de 23/01/2010

Rodrigo Ferrari

Parte do patrimônio das estradas de ferro paulistas corre o risco de ir parar no ferro-velho. Em Bauru, vagões e locomotivas pertencentes à antiga Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) apodrecem ao relento no pátio de Triagem Paulista, no Jardim Guadalajara. O problema começou no final da década passada, período em que a estatal foi privatizada.

A Ferroban, vencedora da licitação para concessão da “Malha Paulista” da RFFSA, tirou de circulação as locomotivas movidas a eletricidade, utilizadas no transporte de passageiros. As velhas máquinas e os vagões obsoletos foram então deixados à própria sorte nos pátios das estações situadas ao redor do Estado.

Com o passar dos anos, o processo de deterioração desses materiais se aprofundou ainda mais. Na prática, os carros abandonados se converteram em abrigo para andarilhos, usuários de drogas e animais peçonhentos. Além disso, vagões e locomotivas tornaram-se alvos prediletos de vândalos e “garimpeiros” de sucata.

Tanto que, hoje em dia, é difícil encontrar um veículo intacto no pátio de Triagem. Aliás, o local lembra bem um corredor da morte, onde as carcaças dos trens aguardam o momento em que receberão o golpe de misericórdia a ser desferido pelo tempo - ou algum coletor de sucata.

A América latina Logística (ALL), que adquiriu o controle da Ferroban e da Novoeste (concessionária da malha da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), passou a recuperar os carros que ainda apresentavam condições de uso. Ao todo, a empresa alega já ter restaurado 6 mil vagões, desde que assumiu a concessão. Afirma ainda que pretende reformar mais 1.350 carros nos próximos anos.

Outros 639 vagões e locomotivas, cuja recuperação mostrava-se inviável, foram deixados de lado pela concessionária. A ALL alega que, atualmente, os carros obsoletos são de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Recentemente, o Ministério Público Federal determinou a remoção desse material (que estava espalhado em 34 estações ferroviárias do Estado) para três pátios, entre eles o de Triagem. A remoção vem sendo feita pela própria ALL, que afirma estar desembolsando em torno de R$ 3 milhões na operação. O Dnit, por sua vez, garante que ficará responsável pela segurança dos veículos.

Apesar do órgão publico ter se comprometido a zelar pelo patrimônio da ferrovia, a reportagem recebeu esta semana a informação de que os vagões e locomotivas estariam recebendo a visita dos “garimpeiros da sucata”. Peças, fiação e até extintores de incêndio já teriam sido furtados do local.

“Esse material é patrimônio público. Mesmo que não apresentasse condições de uso, poderia ser leiloado a fim de gerar receitas para a União”, afirma o vereador Roque Ferreira (PT), diretor do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Segundo informações do Dnit, os vagões e locomotivas mantidos no pátio de Triagem serão avaliados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e posteriormente vendidos em leilão público. O processo de remoção de veículos espalhados pelo Estado está previsto para terminar em julho deste ano.

O procurador da República Pedro de Oliveira Machado afirmou ao Jornal da Cidade que, nos próximos dias, irá retomar a questão dos trens abandonados. “Precisamos checar esse assunto a fundo para garantir que esse patrimônio não se perca”, garantiu.
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Destino de peças ‘tombadas’ é incerto

Recentemente, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac) de Bauru iniciou processo de tombamento de dez veículos que integravam o patrimônio da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), empresa liquidada no governo de Mário Covas (PSDB), depois incorporada à Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e posteriormente privatizada.

Entre os materiais em fase de tombamento constam: um guindaste GF 201, movido a vapor; um carro restaurante; um vagão dormitório; um truck de rodas raiadas; dois vagões de passageiros; um carro pullman; um carro de madeira; um vagão de manutenção e uma locomotiva a diesel.

De acordo com o presidente do Condepac, Sérgio Losnak, assim que se inicia o processo de tombamento, o proprietário torna-se obrigado a zelar pela preservação do bem. Em nota enviada à reportagem ontem, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) comprometeu-se a zelar pela segurança dos veículos que integravam o patrimônio da RFFSA.

Porém, Losnak e os demais integrantes do Condepac estão apreensivos quanto ao futuro das peças mantidas no pátio de Triagem Paulista, considerado um local de “canibalismo”. “Nossa maior preocupação é retirar esse material de lá para que o patrimônio - de valor inestimável para a cidade - não se transforme em sucata”, afirma.

Segundo ele, a Prefeitura de Bauru já teria manifestado ao Dnit (por escrito, inclusive) o interesse em assumir a responsabilidade pelos veículos em fase de tombamento. O material passaria a integrar o acervo do Museu Ferroviário.

Para que essa hipótese se concretize, porém, o Município depende de aval do órgão federal. Ao que tudo indica, a transferência só acontecerá depois que as peças forem avaliadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas isso ainda não tem data prevista para ocorrer.

Enquanto a situação não se define, o patrimônio da ferrovia permanece refém dessa situação de “vácuo de responsabilidades”, correndo o risco de, mais dia menos dia, tombar literalmente sob a mão impiedosa do tempo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Bandeiras e resistência



por Antonio Morales

Esta história foi originalmente publicada no blog Arquivo 68 e é a mesma que gerou o post Ferroviários em greve.

Lendo o post do Novelino UMA BANDEIRA NO CHÁ, fragmentos da memória de um acontecido lá pelos anos 63/64 vieram à tona.

Isso porque, penso eu, a imagem da bandeira brasileira portada por ferroviários em greve tem uma certa semelhança com a bandeira balançando ao vento no Viaduto do Chá por um herói solítário e anônimo.

Tinha eu meus 14 ou 15 anos quando uma das greves dos ferroviários parou os trens da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Como de costume, alguns ferroviários, por medo ou outros motivos se tornavam os chamados “fura-greves” ou “pelegos”(termo que depois passou a ser aplicado a sindicatos que colaboravam com o Governo), estimulados pela Ferrovia, que claro, queria manter seus trens circulando a qualquer preço.

Os ” fura-greves” eram recrutados especialmente entre os maquinistas e seus ajudantes, pois eles faziam as locomotivas continuarem funcionando e os trens circulando, mesmo com falta de pessoal para as outras tarefas.

Essa situação produziu a cena!

Ferroviários em greve sentados e deitados nos trilhos e no limpatrilhos da locomotiva a vapor que avançava fumegando e ameaçando passar por cima dos grevistas.

Os ferroviários sentados no limpa-trilhos portavam uma grande bandeira brasileira e os sentados e deitados nos trilhos cantando o Hino Nacional Brasileiro a plenos pulmões.

Com um detalhe: meu pai era um dos grevistas!

Meu coração de criança acelerado pelo medo e pela emoção!
Felizmente tudo acabou bem.

O maquinista parou a locomotiva e ninguém se feriu. Prevaleceu a razão e a solidariedade, pois nesse momento o maquinista e seu ajudante se juntaram ao movimento grevista!