13/01/2013
Embarques podem voltar para Bauru
É o que pretende a campanha atual de um dos sindicatos ferroviários. Meta é volta de serviço
Rodrigo Viudes
rodrigo.viudes@bomdiabauru.com.br
A noite do dia 15 de março de 2001 já
havia chegado quando uma silenciosa e discreta composição avançou na já
abandonada estação de Bauru. Apenas uma locomotiva e dois carros
encostaram na velha gare. Terminava a última viagem de trens de
passageiros na cidade e no estado de São Paulo.
Mas, passados
quase 12 anos dessa despedida, os trens de passageiros podem, enfim,
retornar. Pelo menos é essa a expectativa do Sindpaulista (Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas).
Nesta semana,
a entidade lançou uma campanha pró-reativação com ofícios encaminhados à
presidente Dilma Rousseff (PT) e ao governador paulista, Geraldo
Alckmin (PSDB).
Mudanças /A proposta da entidade é que os trens
possam ser, gradativamente, reativados no estado e até no país a partir
de revisões contratuais com as atuais concessionárias que transportam
apenas cargas e a cessão de uso das estações ferroviárias às
prefeituras.
“Juridicamente, nossa iniciativa é viável. Só falta
vontade política e uma mobilização da sociedade para que, de fato,
aconteça”, afirma, convicto, ao BOM DIA, o vice-presidente do
Sindpaulista, Ariovaldo Bonini Baptista.
A ALL (América Latina
Logística), que administra quase toda a malha paulista, inclusive em
Bauru, informou ao BOM DIA que não tem know-how para transportar
passageiros, além de preferir as cargas, na qual teria um crescimento
médio de 10% ao ano.
No caso da estação ferroviária, as
dependências do prédio da antiga NOB (Noroeste do Brasil) já pertencem
ao município. Foram adquiridos pela prefeitura, em 2010, por R$ 6,3
milhões.
Rumo ao interior /Outra frente da campanha do
sindicato é a articulação política para trazer, o quanto mais possível,
os trens suburbanos da capital para o interior.
A motivação atual
dos ferroviários é a confirmação do governo estadual da extensão de uma
das linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) de
Jundiaí até Campinas.
Além disso, está em andamento o edital
para criação de trens regionais através de PPPs (parcerias
público-privadas) com a construção de mais 436 km de trilhos
interligando três pontos no estado: Americana, São José dos Campos e
Santos.
“Nossa estação de destino é ampliar a discussão, fazer
com que as ferrovias entrem na pauta dos investimentos dos governos
estadual e federal e no rol das políticas de desenvolvimento regional e
que assumam um lugar de destaque no cenário paulista”, resume o
coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária
Paulista, o deputado estadual Mauro Bragato (PSDB).
Presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do setor
ferroviário encerrada em 2010, o atual prefeito de Marília (100 km de
Bauru), Vinícius Camarinha (PSB), reafirmou ao BOM DIA o retorno dos
trens de passageiros como uma das prioridades do setor no estado.
Cidade ganhará um trem turísticoEnquanto
o novo trem de passageiros não chega, segue na linha a velha composição
bauruense tracionada por uma Maria Fumaça em seus passeios dominicais.
Em
breve, no entanto, a locomotiva voltará a conviver com uma companhia
dos tempos do domínio da tração a vapor, até meados aos anos 1950.
A máquina atualmente exposta no bosque da comunidade, no Altos da
Cidade, retornará à ativa para a formação do futuro trem turístico de
Bauru.
A reativação integra o projeto de reforma da antiga
estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1970-1971). Orçada
em R$ 871 mil, a obra foi liberada pelo Programa Turismo Social do
Brasil, do Ministério do Turismo.
A prefeitura de Bauru fará a
suplementação da verba necessária para resgatar todas as características
originais da estação aberta em 1910 – e com entrada pela rua Rio
Branco, no Centro.
Pelo projeto atual, A “nova Paulista” será utilizada não mais
como ponto de partida e chegada de um transporte cultural e eventual,
como é o caso do atual, oferecido gratuitamente.
Segundo informou
o diretor da divisão técnica da Secretaria da Cultura, a ideia é
formação de um trem turístico que possa interligar as estações de Bauru e
o distrito de Tibiriçá.
“Seriam duas composições. Enquanto uma
fosse, a outra voltaria”, diz. Maquinista da Maria Fumaça utilizada
atualmente, ele teria que contar com pelo menos mais um operador, já
aprovado em concurso municipal.
Diferente do serviço atual,
organizado pela própria Secretaria de Cultura, o futuro trem turístico
demandaria a administração por uma empresa, definida por licitação, e
com obrigações de manutenção de todo o material rodante disponível.
Concessão atual não exige levar pessoas
Pelos
contratos atuais, questionados pelo sindicato, a ALL (América Latina
Logística) tem a permissão de transportar apenas cargas e não os
passageiros. No que depender da empresa, segundo apurou o BOM DIA, vai
continuar do mesmo jeito.
95 Anos foi o tempo que Bauru foi servida pelos trens de passageiros
De Bauru para o todos os cantos do estadoAté
meados da década de 1990, o transporte por trens em Bauru permitia o
acesso a todos os trilhos paulistas. Daqui chegava-se a São Paulo, ao
litoral e às cidades mais distantes do oeste paulista como Presidente
Epitácio e Panorama. Mas as viagens chegavam além, pelo antigo Trem do
Pantanal, pelo qual se desembarcava em Corumbá (MS), na fronteira com a
Bolívia.
Cronologia22 abril de 1905
A Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1971) atinge seus trilhos em Bauru e funda a 1ª estação local.
27 setembro de 1906
Estação da Noroeste do Brasil (1906-1975) é inaugurada com direito a muita festa.
8 agosto de 1910
É
a vez da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1910-1971), que
nascia naquele ano, chegar a Bauru e completar um complexo de ferrovias
por aqui.
1 setembro de 1939
A Noroeste inaugura sua nova e maior estação para poder receber melhor os passageiros que já vinham para Bauru de todo o país
Outubro de 1939
Estações da Sorocabana e da Paulista já não recebem os trens de passageiros, que passam a parar apenas na nova estação.
15 junho de 1947
A
bitola larga (1,60 metro), enfim, chega a Bauru, pelos trilhos da
Paulista. Estação passa a compartilhar fluxo de trens da métrica (1
metro).
Abril de 1976
A eletrificação chega a Bauru pela
Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A [1972-1999]). Grandes locomotivas (V8 e
Russas) passam a levar cargas e passageiros.
13 janeiro de 1993
Última viagem do Trem do Pantanal de Bauru até Campo Grande.
Meses de 1995
Eletrificação começa a ser suprimida. Locomotivas já são abandonadas por aqui.
9 novembro de 1998
Toda a malha paulista passa à administração da Ferroban.
15 março 2001
Chega em Bauru o último trem de passageiros.
28 fevereiro de 2002
É criada a Brasil Ferrovias com unificação de Ferroban, Ferronorte e Novoeste.
Maio de 2006
ALL assume ferrovias, até os dias atuais
Matéria publicada no jornal BOM DIA BAURU