quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Trem bom demais - Primeira parada

Iniciamos com este, uma série de três posts de autoria de Eduardo Sposito, amigo e colaborador. A série foi batizada de TREM BONDEMAIS e se divide em Primeira parada, Segunda parada e Cenas.

antonio morales

TREMBONDEMAIS

Quem estiver ao redor dos 60 - um pouco mais ou um pouco menos – e não tiver alguma agradável recordação de trens, não só não viveu, como não passou pela vida. (Logicamente deve ter também recordações desagradáveis, graças ao abandono a que os trens foram submetidos até sua lenta e dolorosa extinção na luta contra o Império Automobilístico, numa “via crucis” com muitas estações)

A viagem pela minha infância deve ser feita de trem.

Primeira Parada:

Santa Cruz das Palmeiras:- onde nasci e de onde minha família foi despejada para engrossar a mão-de-obra barata na capital, para o Capital, indo morar num cortiço na rua da Coroa, próximo ao local onde hoje é o Center Norte, na várzea do Tietê.

Meus pais vieram com 2 filhos pequenos, mas os avós maternos ficaram, o que ocasionava viagens anuais de trem pela Linha Paulista.

São estas as imagens que povoam minha infância:

- O acesso à Estação da Luz, até o vagão (de 2ª Classe) onde vinha escrito “Santa Cruz das Palmeiras”: a beleza da estação, a reserva de lugar colocando as malas pela janela, o tamanho das locomotivas, a emoção da partida...

- A viagem: andar pelo trem, o barulho rítmico das rodas sobre os trilhos, as Estações (acho que lembro todas: Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos, Campinas, Sumaré, Americana, Limeira, Cordeirópolis, Araras, Leme, Pirasssununga, Laranja Azeda...Palmeiras), o vendedor de jornais (“Jornal! Revista!...” gritavam todos com o mesmo timbre; vendiam também literatura de cordel, de muito sucesso.), o vendedor ambulante de tubaina e sanduíche de mortadela (não tinha esse negócio de restaurante, que a grana não dava.)...

- A baldeação em Cordeirópolis, onde meu padrinho era funcionário da Paulista: meu pai localizava-o para conversarmos, o que sempre rendia alguns tostões para o afilhado. O medo de que meu pai tivesse ficado na estação: o trem saía e ele entrava em outro vagão para só aparecer depois da partida, assustando as crianças.

- A chegada à cidade, que o trem rodeava antes de chegar à estação, com pés enormes de mangas espada e Bourbon(a minha preferida). Para coroar a ida da estação à casa dos avós era feita de “táxi”: uma charrete enfeitada

- As cartas de minha avó escritas em italiano/português, que no envelope indicava o CEP da época: “Lígnea Paulista)

- A primeira “namorada” acenando na estação enquanto o trem voltava para São Paulo. Isso pelo final dos 40, começo dos 50... no século passado.

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