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segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Trem bom demais - CENAS
por Eduardo Sposito
CENAS
1-Eu com meu avô paterno na Estação da Luz (estava inaugurando um terno branco, calça curta e paletó) em viagem para Santa Cruz das Palmeiras. Devia ter 7 ou 8 anos, 1952 ou 1953. Senti “alguém” bater no meu ombro: volto-me e não vejo ninguém. Como o peso continuasse, descobri a cagada de pomba, que tinha sido certeira no meu paletó branco, carimbado na estréia.
2-Deve ter sido o Reveillon de 60 ou 61: eu na praça da matriz em Santa Cruz das Palmeiras, esperando a meia noite, coçando as nádegas e a parte traseira das coxas: segundo o farmacêutico, uma reação alérgica ao detergente usado para limpar os bancos de madeira dos vagões da 2ª Classe, na viagem de trem que acabara de fazer. Lembro de ter escrito no meu diário: “Entrei o ano novo me coçando...”
3-A melhor viagem, em 65 ou 66, São Paulo/Bauru, viajando de “Pullman”(poltronas individuais reclináveis) com mais três colegas de seminário. Aliás... passamos a viagem na plataforma ou no restaurante.
4-A ÚLTIMA VIAGEM: com saudades disso tudo, agora em dezembro de 80, fiz a última viagem de trem do interior: São José do Rio Preto-São Paulo – trem superlotado, famílias inteiras sentadas em malas no corredor, cheiro de urina e 12 horas de viagem (de carro se fazia em 5) com direito a duas horas parados entre Jundiaí e São Paulo. Um triste adeus.
A música Último trem de Milton Nascimento narra de forma poética esse sentimento de perda que povoa nossas memórias ferroviárias.
Último trem
Milton Nascimento e Fernando Brant
Chora ó meu povo, chora meu maquinista
quem leva os trilhos mata um pouco a sua vida
pois o fim da linha é um pulo no vazio
Apaga a brasa. Vem prá casa meu foguista
esquece a lenha, a caldeira e a fumaça
que a estrada é morta, por ela nada mais passa
Nunca mais, menino, nunca mais meu povo aflito
nunca mais a gente vai ouvir o seu apito
nunca mais a gente vai sentir o seu gemido
Chora ó meu povo, que esse trem não deixa rastro
os trilhos arranca dos lugares onde passa
prá onde vai leva nossa linha
O trem derradeiro é carretel que faz novelo
os trilhos recolhe para nosso desespero
o último trem
faz chorar o povo
leva nossa linha
muda nossa vida
leva a alegria
Veja aqui vídeo com coreografia do Grupo Corpo com o instrumental de Último trem.
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