Antiga locomotiva Diesel enfrentando as temidas cheias
em uma das estações pelo Pantanal nos anos 70.
Carcará viajava acompanhando o Trem do Pantanal
por Cleber de Oliveira Junior
Parafraseando Almir Sater, buscando nos trilhos das emoções vividas, seguimos em frente, "enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal"... São muitas recordações de viagens inesquecíveis, de esperas incontáveis, de férias bem aproveitadas na Cidade Branca, de encontros que formaram nossas histórias permeando as paisagens desse Pantanal, que mistura a arte da natureza com a obra de Deus a brindar os privilegiados que transitaram nos vagões acompanhando o barulho e os solavancos.
Em Corumbá, deixávamos as saudades, os choros, os apertos no peito e a esperança da volta em breve, quando para buscar conhecimento, saiamos da terra querida, da cidade branca em busca de novos desafios na capital paulista e no Rio de janeiro.
Era nesse trem, nas cabines com os cobertores "bicicleta" nos vagões puma e às vezes nas cadeiras de madeira (quando não conseguíamos comprar passagem) que fazíamos as viagens até Campo Grande ou até Bauru, para depois pegar o ônibus ao destino final. O trem que perdeu a vez pela intransigência e pelo descaso, que deu lugar aos ônibus em tráfego mais rápido, hoje é só saudade e recordações de um tempo que não volta mais.
O resgate ficou devendo, perdeu-se pela incapacidade de preservar a memória, vagou-se pela ignorância de conceituar valores tão enraizados, que levaram e trouxeram descobertas, riquezas e oportunidades. Deixou de existir simplesmente, como uma casca de ovo que se esfarela no lixo.
O trem dos encontros na estação de Campo Grande, quando estudantes se amontoavam em busca de um lugar para chegar mais depressa a Corumbá. Íamos sentados nas malas e não raras vezes éramos expulsos do vagão restaurante logo depois de saborear o bife à cavalo, com o ovo ainda sem a fritura estar completa e com a clara transparente, era misturada ao arroz, porque reclamar não adiantava.
A cerveja quente traz à memória a dor de cabeça da ressaca que aumentava com os sacolejos. O apito estridente era o sinal de alguma parada. Aquidauana, Miranda, Bodoquena, e quando era possível acompanhar a passagem pela ponte sobre o rio Paraguai, via-se a mata verde do Pantanal e a morraria a cada curva, a cada quilômetro de chocalho.
Nem uma estaçãozinha em memória, nem um museuzinho para relembrar que este fora um dos principais meios de transporte do povo destas terras. Nada para recordar ou contar às futuras gerações, porque os trilhos, arrancados são jogados fora e os vagões sucateados são deixados em local qualquer.
Os novos donos da ferrovia, leiloada, não sabem nada da história, não tem o que preservar porque a memória não é deles. Se nós que somos os donos do trem não pensamos em preservá-lo, por que estranhos o farão?
E assim só cantando, para preservar a história: "Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal, o povo lá em casa espera que eu mande um postal... enquanto este velho trem atravessa o pantanal só meu coração está batendo desigual"... Piui, piui, chec, choc, chic, crunch, piui, piui,...
Parafraseando Almir Sater, buscando nos trilhos das emoções vividas, seguimos em frente, "enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal"... São muitas recordações de viagens inesquecíveis, de esperas incontáveis, de férias bem aproveitadas na Cidade Branca, de encontros que formaram nossas histórias permeando as paisagens desse Pantanal, que mistura a arte da natureza com a obra de Deus a brindar os privilegiados que transitaram nos vagões acompanhando o barulho e os solavancos.
Em Corumbá, deixávamos as saudades, os choros, os apertos no peito e a esperança da volta em breve, quando para buscar conhecimento, saiamos da terra querida, da cidade branca em busca de novos desafios na capital paulista e no Rio de janeiro.
Era nesse trem, nas cabines com os cobertores "bicicleta" nos vagões puma e às vezes nas cadeiras de madeira (quando não conseguíamos comprar passagem) que fazíamos as viagens até Campo Grande ou até Bauru, para depois pegar o ônibus ao destino final. O trem que perdeu a vez pela intransigência e pelo descaso, que deu lugar aos ônibus em tráfego mais rápido, hoje é só saudade e recordações de um tempo que não volta mais.
O resgate ficou devendo, perdeu-se pela incapacidade de preservar a memória, vagou-se pela ignorância de conceituar valores tão enraizados, que levaram e trouxeram descobertas, riquezas e oportunidades. Deixou de existir simplesmente, como uma casca de ovo que se esfarela no lixo.
O trem dos encontros na estação de Campo Grande, quando estudantes se amontoavam em busca de um lugar para chegar mais depressa a Corumbá. Íamos sentados nas malas e não raras vezes éramos expulsos do vagão restaurante logo depois de saborear o bife à cavalo, com o ovo ainda sem a fritura estar completa e com a clara transparente, era misturada ao arroz, porque reclamar não adiantava.
A cerveja quente traz à memória a dor de cabeça da ressaca que aumentava com os sacolejos. O apito estridente era o sinal de alguma parada. Aquidauana, Miranda, Bodoquena, e quando era possível acompanhar a passagem pela ponte sobre o rio Paraguai, via-se a mata verde do Pantanal e a morraria a cada curva, a cada quilômetro de chocalho.
Nem uma estaçãozinha em memória, nem um museuzinho para relembrar que este fora um dos principais meios de transporte do povo destas terras. Nada para recordar ou contar às futuras gerações, porque os trilhos, arrancados são jogados fora e os vagões sucateados são deixados em local qualquer.
Os novos donos da ferrovia, leiloada, não sabem nada da história, não tem o que preservar porque a memória não é deles. Se nós que somos os donos do trem não pensamos em preservá-lo, por que estranhos o farão?
E assim só cantando, para preservar a história: "Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal, o povo lá em casa espera que eu mande um postal... enquanto este velho trem atravessa o pantanal só meu coração está batendo desigual"... Piui, piui, chec, choc, chic, crunch, piui, piui,...
Publicado originamente no Correio de Corumbá