Bom dia Bauru - 03/03/2013
O triste abandono da história bauruense
Patrimônio ferroviário da cidade se perde dia a dia.
Trens e vagões viram sucata sobre os trilhos
Rodrigo Viudes (rodrigo.viudes@bomdibauru.com.br)
De olhos atentos e asas bem abertas, três urubus
sobrevoaram e acompanharam , atentos, toda a movimentação de alguns intrusos
que se atreveram a invadir o farto espaço onde costumam retirar seus restos
para sobreviver.
Afinal de contas, o que haveria ali senão uma coleção de
carcaças? Não que fossem, necessariamente as que costumam satisfazer o peculiar
paladar deste animal, mas também estão ali, como cadáveres a céu aberto.
Os restos ainda preservam as formas externas de
locomotivas elétricas e a diesel e dezenas de carros de passageiros e vagões de
vários tipos, modelos e épocas do setor ferroviário.
Esse “cemitério” chama-se Triagem Paulista, em plena área
urbana de Bauru, vizinho ao Jardim Guadalajara. É por ali que os estranhos –
como os da reportagem do BOM DIA – chegaram para visitar essa macabra
necrópole ferroviária, na tarde de sexta-feira (1º).
De portas abertas /A exemplo de todos os cemitérios de
Bauru, quem chega ali já encontra os portões abertos, escancarados. Tanto que o
descanso das grades revelam que há muito tempo não sabem o que é serem
fechados.
Ao avançar um pouco já se depara com algum sinal
de vida ferroviária no lugar – não a do matagal, que infesta tudo. Os trilhos
reluzentes denunciam que, sim, por ali ainda trafegam trens em um desvio que se
apresenta em uma passagem de nível.
A via, em bitola mista, serve para facilitar a baldeação
de combustível em vagões tanque, um pouco mais acima. Semelhante a isso,
apenas outra via, destinada a uma oficina onde a concessionária do trecho, a
ALL (América Latina Logística), mantém uma oficina para trilhos. .
De resto, o lugar é um abandono só. E a situação poderia
estar até pior não fosse uma vigilância permanente,
contratada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
Vinculada ao Ministério dos Transportes, a autarquia é a
responsável legal por todo o material rodante (locomotivas, carros e
vagões) e os prédios – entre eles, o da antiga estação, ainda com as cores e a
logomarca da extinta Ferroban (Ferrovias Bandeirantes S/A [1998-2002]).
Saques /Os vigilantes hoje tentam evitar o que até
pouco tempo era uma prática diária: os saques. Inicialmente, o alvo dos
invasores era o cobre dos componentes das locomotivas elétricas, encostadas por
ali após a supressão de seus serviços, em 1999.
Depois, com o acúmulo de dezenas de carros de
passageiros, há poucos anos, o foco passou a ser o alumínio, o inox. As marcas
de tiros nos vidros e laterais revelam os confrontos que costumam
acontecer por ali.
Cenas de violência em um ambiente onde se deveria
respeitar, pelo menos, os mortos. É como se, por ali, tivesse havido um
bombardeiro. Há trilhos, truques, dormentes apodrecidos e, claro, esqueletos do
que um dia foram velozes locomotivas ou luxuosos carros.
Cai a tarde e, após quase uma hora de caminhada
supervisionada por um vigia, é hora de ir embora e deixar que os urubus voltem
a zelar pelo patrimônio cuja história não se deixa
sepultar.