Este post foi anteriormente publicado no blog Arquivo 68. Republico aqui pois ele dá sequência ao relato O trem pagador.
Antonio Morales
Comecei a contar sobre o trem pagador, que na década de 60, percorria os ramais da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. E como o pagamento dos ferroviários era feito diretamente no guichê do vagão estacionado em um desvio da esplanada de manobras.
A chegada do trem pagador era sempre motivo de festa e alegria pois ele trazia o esperado envelope recheado de notas, isso mesmo, dinheiro vivo, com o salário do mês dos empregados da ferrovia.
E essa alegria contagiava também as crianças, pois sempre havia a esperança de que os pais gastassem algum em guloseimas, um brinquedinho ou um gibi. O que, de fato, muitas vezes acontecia, para nossa felicidade.
Eu particularmente adorava os gibis, mas isso é uma outra história que conto em outra ocasião.
Minha alegria porém era dobrada ou quadruplicada pois meu pai era o chefe do trem pagador e volta e meia me levava junto para uma pequena viagem no trem pagador, com direito a pouso e passeio nas cidades onde o trem pernoitava.
Para um menino do interior era uma tremenda aventura, que começava no vagão pagador equipado com beliches para passarmos a noite, passava pelos cinemas das cidades de pousada e terminava no retorno à estação de origem.
E lá ia a locomotiva a vapor resfolegando pelos campos cortados pelos trilhos da ferrovia puxando um único vagão no estilo da série de TV James West, da qual muitos devem se lembrar! Muitos detalhes dessas viagens que fiz se perderam nas brumas da memória, como costumam dizer os escritores.
Mas, menino ainda, assisti a decadência das ferrovias no Brasil na década de 60, materializada na extinção dos ramais onde MEU trem pagador circulava.
Os ramais de São Carlos-SP a Novo Horizonte-SP, de Trabiju-SP a Bariri-SP e Trabiju-SP a Dourado antiga Estrada de Ferro Douradense foram extintos e os trilhos arrancados para tristeza de nossos pais ferroviários e seus filhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário