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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
1939 - Ouro Branco em Bauru
“A Canaan dos modernos desbravadores mora no oeste acima, onde o sol é adusto e a terra jovem palpita de seiva pujante e fértil.
Deixando Rubião Junior a diluir-se, lá atraz, no fundo azul da paisagem, batida de claridade forte, as fronteiras dos rincões verazes se abrem, acolhedoras e amplas, aos olhos do viajante. O caminho corre sobre rampas, que volutam caprichosas e constantes vão vencendo velozmente.
A via permanente é uma alameda bem cuidada de jardim, calçada de pedregulho grande, enegrecido pela fuligem das locomotivas; boeiros simétricos, revestido de gramíneas repolhudas e viçosas, ora verde, ora desbotadas, correm parelha com as fitas de aço, farfalhando, pelas mãos do vento, a sua alegria saudável; a cerca de arame farpado, com moirões de guarantan, forma alas uniformes ao comboio que se engolfa sinuosamente; além, e a perder de vista, cafeeiros perfilam tranqüilamente a sua riqueza. Eis a moldura que se rasga perante as retinas do passageiro estreante.
Já ali se vai sentindo a força indômita, e construtora do escravo da gleba. A anunciar belos vaticínios. Mais tarde, a jornada se projeta na placidez de longas retas, e os trilhos parecem enterrar-se, subitamente nas entranhas da terra, lá no baratro arcual do nada. Mas o traçado e a perspectiva guardam sempre o mesmo emlevo de paisagem bem penteada. E depois a alameda do caminho de aço aponta, na frente, as portas da Canaan: Bauru.
Para quem deseja sentir o contacto daquele mundo novo, não é necessário afundar-se pelo sertão impérvio. Basta descer em Bauru.
Logo na estação ferroviária as palpitações de um comércio intenso de viadantes fala expressivamente. A plataforma em construção projeta para o alto as vigas de cimento armado e o comboio se embrenha em um aranhol confuso de andaimes e gilvazes. Ruídos de locomotivas, de sirenas, de martelos de artífices que armam o arcabouço do imenso galpão. No espaço escuro, a caliça densa. E entremeio aquela ruiva nebulosa de poeira, borbulha a multidão afoita. Respira-se já, a febre da Canaan.
A cidade tem a inquietude das grandes vésperas, dos grandes acontecimentos da humanidade; tudo é recente, transitório.
Transitório do bom para o melhor, do grande para o amplo, do rico para o suntuoso.
Para aquela inquietude cigana de desbravador é sempre dia, um dia sem limites, ansioso, trepidante, em que as virtudes inatas de trabalho e de realizações do homem, esporeadas pelo desejo de conquistar depressa qualquer coisa de seguro e de sólido, vive à flor dos seus gestos mais comuns.
E ao embalo desse alvoroço de fortuna fácil, a criatura se embriaga numa porfia de titans, criando os fundamentos de um mundo inédito de riqueza, de civilização e de vida. E é para essa Canaan contemporânea que a Sorocabana destina a sua expressão dinâmica mais moça: o Ouro Branco.
Os algodoais noroestinos tem agora, um símbolo próprio a riscar a distância que separa os dois grandes núcleos de trabalho, São Paulo e Noroeste, aproximando o artezão da industria e o bandeirante das terras ubertosas. A Sorocabana foi a primeira ferrovia a abicar Bauru. E é a primeira a nutrir a força propulsora econômica daquelas paragens, com o veículo novo da velocidade.
Um símbolo moderno de transporte entre as glebas, que a vontade do homem vai rapidamente amanhecendo para grandes destinos, e a cidade paulistana. Eis o Ouro Branco.”
(texto extraído da Revista "Nossa Estrada - mensário oficial da Estrada de ferro Sorocabana - nº11 Maio de 1939)
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Tonhão, sou filha de ferroviário e, portanto, minha vida também foi permeada por "trilhos"....muitos! Viajei muito pelos trens da Rede Ferroviária, muitas historias que meu pai contava. O pai se aposentou la e ganhou de presente dos companheiros da época uma "escultura" feita toda com materiais descartados (lixo, né!) do tal "pela-porco" (onde se lavava, com óleo quente, as peças dos trens, para manutenção) Enfim, dá uma saudade....
ResponderExcluirBeijao pro ce, querido! Obrigada pelas historias que tanto fazem sentido para mim!!!